CONVITE OU INTRODUÇÃO? UM ENSAIO SOBRE O PREÂMBULO DA CARTA DA TERRA
“PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.” (Carta da Terra)
O preâmbulo da Carta da Terra é um convite e uma introdução para quem desconhece a situação do Planeta e o caminho que estamos trilhando. Primordialmente nós somos chamados a refletir sobre o que somos, não como unidade, mas como coletivo; e que o caminho em que o indivíduo seguir, possuirá rastros de outros diversos seres que por ali também passaram, pois somos “uma comunidade terrestre com um destino comum” (Carta da Terra).
Quando unimos nossas forças em prol da construção de uma sociedade sustentável global, ponderamos uma série de pilares que são essenciais para o desenvolvimento econômico e social, que permite a redução das desigualdades, a edificação de uma cultura de paz; sempre partindo da declaração universal dos direitos humanos, que é uma conquista da humanidade, quando preservada e respeitada.
O desenvolvimento sustentável é o único caminho para construir uma sociedade que avança e se desenvolve em seus diversos aspectos, mas que respeita o meio ambiente, os recursos naturais e os tempos de regeneração dos mesmos; respeita o ser humano que por vezes não é visto como parte do meio ambiente, mas que pertence ao todo e sem o respeito ao mesmo, entramos em desequilíbrio e a tendência é que a degradação da vida fique à frente de todos os progressos possíveis.
O nosso compromisso é apresentado ao final do preâmbulo, onde é reconhecida a necessidade de declarar a responsabilidade; a responsabilidade para com e entre a comunidade humana, para com a comunidade da vida (toda a biosfera), e para com as futuras gerações.
O que será do nosso futuro, apenas caberá a nossa decisão. O que quero para mim? O que quero para nós? O que quero para a vida na Terra? É inegável que somos interdependentes, tanto seres humanos, quanto entre seres vivos. Cada ser tem seu papel na manutenção do Planeta Terra e quando o ser humano descumpre o seu papel, ou opta pelo caminho da agressão, a única consequência possível é a degradação da vida.
Hoje, temos uma vasta gama de informações e conhecimentos que a um tempo atrás não eram concebíveis; o que deveria provocar uma reverberação nos seres que mobilizasse a transformar e a preservar; mas o que temos observado é o contrário.
Precisamos rever nossos hábitos e analisar o que nós podemos fazer; se nós não tivéssemos as informações ao nosso alcance, poderíamos apontar isso como motivação; mas como essa não é a nossa situação, podemos partir para outro questionamento: Em meio a toda essa informação, devemos acreditar em que?
O conhecimento popular, transmitido por gerações é uma fonte de informação, mas não é a única; o conhecimento científico é importante, mas não é infalível; e o conhecimento que adquirimos através da experiência é relevante para a prática habitual. Todo conhecimento é válido, por isso precisamos parar, analisar e ponderar o que tem agredido o meio ambiente e a vida humana em paralelo aos nossos atos, pensando sempre no que de fato é necessário e no que de fato é fútil.
Não podemos partir somente do conhecimento que já possuímos, mas sempre levantar a dúvida para a necessidade de cada ato. Se a ação X não trará nenhum retorno significativo para a vida, por que persistir no ato? Um dos princípios do direito ambiental é o da prevenção e o da precaução, pois não pensamos somente naquilo que já temos mensurado, mas pensamos também nas consequências futuras de ações ainda não concretizadas.
O convite ou a introdução serve para nos alertar sobre o presente, por esse mesmo motivo que essa Carta é tão importante para a vida, seja ela qual for. A Carta da Terra é uma introdução para o presente e um convite para um futuro que só será possível, quando analisarmos o passado e planejarmos o presente com firmeza e com verdade.
O poder de transformar ou de destruir está na mão de cada indivíduo, cabe ao coletivo definir o que queremos para o nosso futuro.
Nós, os povos da Terra temos o dever de pensar nosso futuro com qualidade, respeitando as vidas presentes e as que virão habitar a casa comum, o Planeta Terra.
Fonte: Nathan Gabriel Cerqueira Carvalho