MORTOS QUE FALAM
Dia de Finados – 02 de novembro - é feriado nacional. As pessoas reservam um momento especial para visitar cemitérios. A palavra “cemitério” significa dormitório, lugar de dormir esperando a ressurreição. Os cristãos são felizes porque sabem que a morte não é o fim. É a vida que continua.
É NO DIA de Finados que mais lembramos os falecidos de nossa família e comunidade. Visitamos os cemitérios. Levamos flores. Acendemos velas. Rezamos pelos nossos familiares, conhecidos e amigos que nos deixaram. Prometemos que se voltassem a convivência, cada minuto seria vivido com mais intensidade e alegria. Inútil! Só o silêncio nos responde: “O que eu fui, você é. O que eu sou, você será”.
“SEPULTAR os mortos” é uma das chamadas Obras de Misericórdia. Às vezes, por dever e solidariedade, todos temos de participar de enterros. É uma ocasião privilegiada para avaliar a escala de valores de muita gente e mesmo da hipocrisia humana. Depois que a pessoa morre, muitos descobrem nela, grandes qualidades. Filhos, sobrinhos, netos, que nunca apoiaram pais, avós ou tios, desesperam-se diante do morto
HÁ ENTERROS que comovem e questionam. A sabedoria antiga afirmava: há mortos que falam. Isto é, há vidas vividas de forma admirável que se constituem no mais eloqüente sermão para os que ficam. O filósofo francês Gabriel Marcel garantiu: “A morte é bela, quando a vida foi bela”. Quando o Papa João Paulo II e a Irmã Dulce foram sepultados, a multidão, até então silenciosa, prorrompeu numa salva de palmas. Isto acabou se tornando moda. Mas, há situações, em que uma vaia cairia melhor.
A MORTE constitui-se na maior de todas as certezas. Desde o nascimento caminhamos para a morte. Desde o começo somos terminais. Nascemos com um prazo de validade. Não caímos subitamente na morte, mas avançamos para ela passo a passo. Morremos todos os dias, morremos a prestações. Os grandes avanços da medicina apenas propiciam, aos seres humanos, em média, mais alguns anos de vida.
O CRISTIANISMO, porém, garante ter boas notícias sobre a morte. Para a pessoa de fé, o que parece morte, torna-se vida, vai para “Casa do Pai”. A morte, para quem acredita em Cristo e para quem fez o bem, é uma recompensa. E São Paulo nos diz: “Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou assim também os que morrem em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia” (1TS 4,14). E a vida continua.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
di.vianfs@ig.com.br
Fonte: Dom Itamar Vian