Monsenhor Amílcar Marques de Oliveira: Vida, Feitos e Memória Centenário de Ordenação Sacerdotal


07/08/2020

Por Vitor Batista dos Santos

Quem o conheceu em vida, ou através do testemunho, dos quais, aqueles que o conheceram, propagam referente à sua vida, seja ela sacerdotal, ou civil, sabem e atestam o homem, Sacerdote, amigo e familiar exemplar, que foi Mons. Amílcar Marques. Nascido na cidade Heroica de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, herdou de seus antepassados, a bravura e a tenacidade, de que tantas vezes necessitou usar, para tornar válidos, princípios e normas da igreja, o que só como possuidor de sua força, teria condições de fazê-lo.

Por onde passou, exercendo seu sacerdócio, deixou marcas indeléveis, de espírito aberto, de capacidade de entender aos sinais dos tempos, de um exacerbado dom de entusiasmar os leigos, comprometidos com Cristo e sua Igreja. Filho de Augusto Marques Oliveira e da senhora Augusta Marques de Oliveira, nasceu no dia 09 de fevereiro de 1898, seus pais, mesmo não possuindo títulos na sociedade, eram bastante considerados na localidade que viviam, sendo sua mãe, proprietária de uma sortida loja, e seu pai, funcionário da Estrada de Ferro do Prolongamento do São Francisco. Foi batizado no dia 21 de agosto de 1898, tendo como padrinhos, o senhor Cyrilo Oliveira e a Senhora Delmira Theodonata, como consta no livro de batismo da Freguesia de Cachoeira.

Sua vida clerical tem início, no seminário da Bahia. Após estudos, foi ordenado diácono, no dia 11 de julho de 1920. Após curto tempo, é ordenado Sacerdote, no dia 20 de agosto do mesmo ano. Data a qual comemoramos deste insigne sacerdote.  Logo após sua Ordenação, vai para Roma estudar Direito Canônico. Com seu retorno a Bahia, Dom Jerônimo Thomé da Silva, nomeia-o, em 03 de dezembro de 1923, como capelão da Companhia Progresso Industrial em Plataforma, na cidade de Salvador. Logo no início de seu Sacerdócio, Mons. Amílcar, marca a história da Bahia, sendo nomeado em 12 de junho de 1929, Capelão do Asilo dos Expostos, da Santa Casa de Misericórdia da Bahia. Durante sua trajetória em Salvador, foi nomeado Diretor Regional da Obra de Propagação da Fé no Brasil, Capelão do colégio do SS. Sacramento, Capelão da Igreja da SS. Trindade. No seminário Central, ocupou diversos cargos, tais como Professor Catedrático de Música Sacra, Francês e canto gregoriano, e Confessor.

Mons. Amílcar foi um enamorado da Ação Católica, desde os métodos do Papa Pio XI, chegando a de Cardinj. Foi Sacerdote de excelente visão, do papel do leigo, na igreja e na sociedade. Possuía uma capacidade de atrair os jovens, mesmo com seus cabelos brancos e faltosos. Foi nomeado no ano de 1947, assistente eclesiástico da Juventude Feminina Católica, não faltando fulgor para vitalizar os membros da instituição, promoveu diversos acampamentos, passeios e campanha. Em 1949, foi nomeado vigário Geral da Ação Católica, exercendo seu cargo com grande competência, disponibilidade e ardor apostólico. Foi importante comunicador e incentivador dos trabalhos em equipe. E tudo isso foi realizado, não esquecendo o mais importante, a formação das militantes, com a orientação individual e a preparação do grupo. Seu tempo nunca faltava para atender confissões, direção espiritual e conversas particulares. Foi pastor que cuidou zelosamente de suas ovelhas, não esquecendo que deveria conhecê-las pelo nome.

Em sua última atuação em Salvador, antes de ser transferido para Feira de Santana, exerceu seu sacerdócio na Paróquia de Santo Antônio Além do Carmo, onde no ano de 1932, 514 membros integrantes das diversas instituições existentes na Paroquia, entre Irmandades e Associações, assinaram e encaminharam ao Arcebispo Dom Augusto Álvaro da Silva, uma solicitação para a permanência de Mons. Amílcar, na Paróquia. Mas para o Bem da Igreja e do povo Feirense, o intento não aconteceu.

Monsenhor Amílcar Marques de Oliveira foi nomeado pároco de Feira de Santana, no Ano de 1933, exercendo seu paroquiato até o ano de 1946. Neste período de 12 anos, 8 meses e 25 dias, de 25/12/1933 a 19/09/1946, como vigário inamovível de Feira de Santana, exerceu um paroquiato riquíssimo de grandes realizações, em todos as classes e setores da sociedade Feirense. A eficiente catequese, a abençoada evangelização, o zelo pela cultura e a abnegação pela Música, o constante apoio as instituições, o interesse pela preservação, crescimento e bom uso do patrimônio da Paróquia, registram nos anais da história, sua presença em Feira de Santana.

Monsenhor fundou a Cruzada Eucarística, escolas paroquiais, centros catequéticos, construiu o campo de Sant’Ana, criação da cruzada da boa imprensa e idealizou a grande obra de assistência aos idosos e crianças, o Dispensário Sant’Ana. Em conjunto com algumas senhoras que o acompanhavam, no intento de ajudar aos mais necessitados, reunia-se na capela do SS. Sacramento da então Matriz de Feira de Santana, onde foi gerado o Dispensário. A instituição hoje tem a frente, a Ir. Rosa Aparecida, grande Baluarte desta obra de assistência, com o Apoio da Senhora Elisabeth Marques, e diversos colaboradores. Em Feira de Santana, foi o divisor de uma igreja que antes calada e servil, depois livre e independente, aprendeu com seus ensinamentos e vivência. Sempre firme em suas decisões. Tinha o tempo, para cada coisa. Era forte e valente. Quando havia desentendimento com as filarmônicas, motivadas pelos coronéis de influência, apoiados por proprietários de jornais da cidade, Mons. Amílcar, permaneceu firme, desobedecendo ao Arcebispo que queria transferi-lo, antes que o pior acontecesse. As filarmônicas invadiram a igreja e tocaram durante a celebração da Missa, fazendo com que Mons. Amílcar, obedecesse ao Arcebispo, sendo transferido para a paróquia do Pilar em Salvador. Essa narrativa descrita pelo próprio Amílcar, a punho no convite da Filarmônica Euterpe Feirense, para a Benção da pedra fundamental da sede, ele relata que em conjunto com a Filarmônica 25 de Março, no dia proposto para a benção, 26/07/1945, elas tocam na igreja, infligindo um decreto.

Monsenhor Amílcar, despertou em jovens da cidade a vocação, sendo seu sonho, vê-los padres. Entre os jovens estavam o Ex. Prefeito de Feira de Santana, José Falcão da Silva, e Cirilo Carneiro, que foram enviados ao seminário, mas retornaram antes da ordenação, não realizando o desejo de Amílcar.  

Adquiriu para a Paróquia, uma chácara localizada, na hoje denominada Avenida Sampaio, em terreno que está instalada a estação rodoviária de Feira de Santana, onde realizava inúmeros eventos, a fim de promover o melhor para a juventude. Desta chácara, rendeu-lhe uma página na história, ao referido Mons., os vizinhos da chácara, prestaram uma queixa na delegacia de polícia, por motivo de que o proprietário do terreno não cuidava das cercas do terreno, deixando os animais que criava invadir os terrenos alheios.  Esse acontecimento foi em 03 de novembro de 1945.

Em feira de Santana, exerceu ainda, o cargo de Vigário ecônomo da Paróquia de Gameleira, solicitante do Fabriqueiro para a freguesia de Bonfim de Feira e Almas (Anguera); e professor de doutrina Cristã, na Escola Normal Rural de Feira de Santana.

Com sua transferência de Feira de Santana, retorna para Salvador. Após percorrer diversas capelanias, é nomeado vigário inamovível da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. E esta foi sua última paróquia. No dia 06 de novembro de 1965, faleceu, vítima de acidente automobilístico, deixando um vasto legado na sociedade e na igreja.

Diversas homenagens foram prestadas a este insigne sacerdote. Em uma escola na cidade de Cachoeira ele é patrono, em Salvador, nomeia o Centro Social Monsenhor Amílcar Marques, no Bairro do Rio Vermelho. Em Feira de Santana, em 1966 foi criado o Centro Cultural Recreio Educativo Monsenhor Amílcar Marques, no Bairro dos Eucaliptos, e nas comemorações dos 25 anos de sua morte, foi construído com o apoio da prefeitura municipal de Feira de Santana, um monumento em sua homenagem, no adro da Catedral de Feira de Santana.

De todos os sacerdotes que passaram por Feira de Santana, sem dúvida, o mais notável e polêmico de todos, foi Monsenhor Amílcar Marques de Oliveira.



Fonte: Vitor Batista